22 de mar. de 2012

SOLITÁRIAS EXISTÊNCIAS



Era uma vez....ah não, não era nada. Por que insistem em começar as histórias com essa frase? Parece algo que remete a “Branca de Neve e os Sete Anões” ou a “Cinderela”. Não, nossa história se passa em SP. Nina era uma artista plástica um pouco frustrada. Fazia seus abstratos que até mesmo ela tinha uma certa dificuldade em contextualizar. Vendia seus quadrinhos na feira da Calixto aos domingos. Na verdade, podemos dizer que eram quadros feitos na calada da noite, na qual vinha a inspiração, e ela trabalhava, uma vez que sofria de insônia. 

Numa dessas noites quentes de um janeiro qualquer saiu para comer alguma coisa que lhe restaurasse as energias. Encontrou bem próximo de casa o cachorro- quente que de quente só tinha o nome, mas a batatinha palha até que era boa. Mesmo assim era o que cabia dentro de seu parco orçamento. Nina comia tranquilamente seu lanche quando foi abordada por uma moça na faixa dos 20 que a alertara que havia mostarda em seus cabelos. Nina sorriu para a estranha e logo descobriu que seu nome era Sara. Sara perguntou se o lanche estava gostoso e Nina balançou parcialmente a cabeça. Sara, desconfiada, preferiu continuar a mastigar seu chiclé gasto. De repente, o olhar delas congelou o tempo e, naquela madrugada quente de janeiro, só havia as 2 na rua. 

De repente, foram se achegando em suas solidões, e Sara confessou que era garota de programa. Não que a vida lhe condenara a isto, não mesmo, mas ela optou pela vida “´fácil” depois da desilusão de ver seu noivo José Flavio comendo sua irmã mais nova. Clara tinha apenas 13 anos e se comportava como uma verdadeira profissional. De repente, o mundo de Sara havia caído e não havia cordas de segurança. 

José Flávio, desconcertado, com o flagrante, tentou esconder as vergonhas, mas Sara resolveu dar fim à festa do safado. Sacou uma faca da cozinha e cortou o mal pela raiz. Nunca mais fora o mesmo, nem ela. Clara enlouqueceu e foi internada num sanatório qualquer, destes sujos e tristes. Sara foi mandada para os confins de Mato Grosso e, depois de uma longa e forçada temporada no fim do mundo, resolvera que era hora de voltar. Não era mais a Sarinha da família. Não era mais aquela pacata empacotadora do supermercado da vizinhança. Era a mulher que desgraçou a vida de um homem que nunca mais fora o mesmo. Nina não tinha mais seus pais. Eles morreram afogados na Praia Grande depois de algumas doses a mais de caipirinha. O mar estava de ressaca, e eles felizes demais. De repente, o que restara fora um apartamento e muitas lembranças do pai, um bom sujeito aposentado do Banco Noroeste e a da costureira que tinha mania de enfeitar a casa com flores de plástico. 

Nina e Sara, profundamente solitárias, encontraram-se e reconheceram suas solitárias existências. Sara largou a vida pra ficar com Nina. Nina pintava a dia todo e vendia seus pobres quadros na Calixto. Sara começou a trabalhar em telemarketing. Flora, a gata persa, ganhou uma nova mãe. Nina e Sara adotaram Dora...mas isto já é uma outra história.

Obs: O quadro que ilustra esta postagem chama-se "As meninas' (Pablo Picasso).

16 comentários:

  1. cada dia mais surpreendente o Edilson! fico fascinado com esta capacidade ...

    bjão

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  2. Olá,
    Tudo bem?

    Iniciei um blog há pouco e navegando por essa imensidão da blogosfera deparei-me com teu blog. Gostei muito, por isso sigo-te.
    Se puder e quiser visite meu cantinho
    beijos

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  3. Olá,
    Tudo bem?

    Iniciei um blog há pouco e navegando por essa imensidão da blogosfera deparei-me com teu blog. Gostei muito, por isso sigo-te.
    Se puder e quiser visite meu cantinho
    beijos

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  4. Denso. Triste. Forte. Simples. Alegre. Misto. Complexo. Ou qualquer outra palavra que consiga traduzir o que é próprio do humano. Parabéns!

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  5. adorei!
    mas eu adoro um era uma vez...

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  6. Muito bom, apesar de triste!!
    ah o era uma vez tem que ter em toda história é um clichê necessário eehheeh

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  7. Affe, será que um dia eu vou escrever desse jeito?! Eu não achei triste. É outra coisa que eu ainda não defino: uma mistura de muitos sentimentos, um meta-sentimento... se não existe isso, você acabou de inventar!

    Beijão, meu querido... obrigado pelo carinho!

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  8. Matou a pau, hein? Agora conta "as outras histórias"... hehehehe! Hugzão, querido! Ótimo fds!

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  9. achei a essência dessa história triste,

    e uma luta pela vida,


    e cheio de fé, com a Dora que veio...


    um beijoooooooooooooooooooo

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  10. Queridos:

    Bratz - Obrigado pelo carinho de sempre. Você sempre é muito gentil comigo. Abraços e lindo fim de semana.

    Gislane - Fico muito grato pelo teu carinho, pode deixar que vou lá lhe fazer uma visita,ok? Beijoo e lindo fim de semana.

    Luiz Carlos - Obrigado. Você sempre dispensa os comentários mais elogiosos ao Lua. Sou teu fã e simplesmente acho delicioso seu modo de escrever. Lindo fim de semana. Abraços.

    Foxx - Fico muito feliz que tenha curtido. Abraços.

    Frederico - Engraçado você abordar este aspecto "triste" por incrível que pareça não percebi esta tristeza ao escrever, mas esta existe mesmo. Abraços e lindo fim de semana.

    Cesinha - Puxa amigo, fiquei profundamente envaidecido porque suas palavras ressoam de forma muito bonita dentro de mim. Obrigado de verdade. Abraços e lindo fim de semana.

    Fred - Muito obrigado pelo seu carinho de sempre. Um enorme prazer ter vc por aqui. Abraços e lindo fim de semana myhero.

    Alê - Nossa Alê vc foi convocada pra ser minha "comentadora oficial" do blog..hahahaha. Como vc enxerga as coisas que escrevo de forma tão singular. Perfeita a sua observação. O conto tem um olhar triste, mas tb de redenção e esperança. Amei. Bjs e lindo fim de semana.

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  11. QUERIDOS:

    MUITO ORBIGADO PELAS MANIFESTAÇÕES TÃO CARINHOSAS. ACHO QUE O MAIS GRATIFICANTE PARA NÓS QUE ESCREVEMOS É PERCEBER O RETORNO POSITIVO DOS LEITORES. OBRIGADO POR VALORIZAREM MINHA ESCRITA E AS COISAS QUE DECIDO COMPARTILHAR COM VOCÊS. TODOS SEM EXCEÇÃO SÃO MUITO IMPORTANTES PRA MIM (EDILSON) E PRO LUA. BJS E ÓTIMAS ENERGIAS.

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  12. Querido que belo texto, triste, como os caminhos que a vida pode nos guiar.

    já adorei aqui, e te sigo. =** parabéns.

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  13. Ai! Comentadora oficial é tarefa dificílima... rsrs.
    Quem me dera essa sutileza de ver além,

    Mas como escrevi: tem tristeza aqui, mas tem esperança.

    E eu sou da esperança. Aliás: esperança e teimosia andam comigo. Me identifiquei com seu texto.

    E quero saber da Dora, rsrs. Afinal, quem ou o que vem nos acrescentar, merece linhas e linhas,


    Um beijooooooooooo no seu coração!

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  14. Oie queridãããããããão! Saudade daqui! :D
    Rapaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaz que texto é esse? Simplesmente maravilhoso, apesar de triste, tem amor, companheirismo, descoberta e renascimento...
    Show, mil vezes show! ;) :P
    Beijo, beijo!
    She

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  15. Passando pra deixar um beijoca e desejar uma semana maravilhosa!

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  16. Queridos:

    Ana Andreolli - Fico muito feliz com teu carinho. Venha sempre mesmo eu também já havia favoritado teu blog a algum tempo atrás. Beijooos.

    Alê - O convite tá feito...kkkkkkkkkkkkkkk.
    Beijooos lindeza.

    Sheilinha - Você não me ama mais??? hahahahaha. Você sumiu sua chataaaa...rs Não faça mais isto hein...rs Beijoooos lindona.

    Alê - Suas beijocas são sempre muito bem-vindas...rs Beijoooos lindeza.

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O Lua agradece sua visita, volte sempre.