21 de set. de 2010

ENTRELIVROS

A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery (Companhia das Letras, 2006) - A primeira dica sugerida é de um livro que simplesmente me arrebatou de uma forma impressionante. O livro tornou-se, logo após seu lançamento, uma grande sensação editorial na França. É narrado por meio das 2 personagens centrais: Renée, a conciérge - zeladora do edifício de luxo, e Paloma, a menina de 12 anos que contesta o mundo.
A obra nos leva a uma profunda reflexão a respeito da existência humana, das castas sociais e o quão materialistas somos. O criticismo do livro nos mostra o quanto os seres humanos muitas vezes passam pela vida sem ao menos terem de fato vivido. Essa obra-prima é cheia de citações de outros autores, obras do cinema, pintura e música e, sobretudo, do genial cineasta japonês Yasujiro Ozu. Ele, como ninguém, falava do cotidiano com uma poesia ímpar em seus filmes. Ozu era o poeta do cotidiano, e esse livro é pura poesia. Para quem aprecia livros de bom gosto, ele é um deleite aos amantes da filosofia. Sensível, tocante e edificante. Quando acabei a leitura, tive vontade de chorar de alegria por existirem pessoas como Muriel, que é uma autora que toca na alma do leitor.


Doidas e Santas, de Martha Medeiros (L&PM Editores, 2008) -Outro livro que acabei de ler foi o da brilhante jornalista, cronista e colunista dos jornais Zero Hora e o Globo Martha Medeiros. A gaúcha, nascida em Porto Alegre, empresta uma leveza e sensibilidade ao texto ágil que simplesmente nos faz mergulhar profundamente em sua alma feminina e antenada com o que acontece ao nosso redor e muitas vezes não nos damos conta. Ela nos mostra em suas belas crônicas como o cotidiano pode ser massacrante se não o enxergarmos com leveza e bom humor. Sou apaixonado pela forma franca e direta de Martha. Ela nos fala ao coração e cria uma intimidade com o leitor como se nós fôssemos velhos conhecidos. Super-recomendo a todos os leitores do Lua, pois o livro é um testemunho emocionado de uma poetisa do cotidiano. Parabéns, Martha, por seu olhar tão sensível e inteligente do homem atual.


Leite Derramado (Companhia das Letras, 2009) – O mais recente livro de Chico Buarque foi uma grata surpresa dos bons livros que li nos últimos tempos. O livro é narrado na primeira pessoa e narra as lembranças de um velho moribundo na casa dos 100 anos que recorda as memórias, e até mesmo os esquecimentos, de quem viveu muito. Eulálio está internado em um hospital público decadente e relembra momentos gloriosos que sua família importante e influente viveu. Interessante perceber o fôlego que Chico demonstra ao escrever de forma vigorosa e apaixonada Leite Derramado. Um livro para ser devorado em poucos dias, de fácil leitura e que transita por diversas décadas. Ao acabar de lê-lo, é impossível não pensar na transitoriedade das circunstâncias e na efemeridade da vida. O tempo é algo que nos escapa, que não conseguimos aprisionar e, de fato, o que nos resta são as lembranças ou pequenos esboços de uma felicidade que foi enterrada em algum lugar sombrio e decadente de nossas existências. Fiquei muito feliz com a oportunidade em desfrutar do texto dinâmico e cheio de vida de Chico. Ele é mestre e tem a capacidade de brincar com as palavras. Em suas mãos, as palavras viram pedras preciosas.


Renato Russo, de Arthur Dapieve (Ediouro, 2006) - Neste livro intenso, o jornalista Arthur Dapieve escreve e relembra a trajetória de um dos maiores artistas que o Brasil já teve, o inesquecível Renato Russo. O Renato que conhecemos, lendo o livro, era um intelectual que devorava livros, filmes e música. Conhecia de tudo um pouco, de Sócrates a heavy metal. Desde sua adolescência, demonstrava grande aptidão pelas artes e, graças ao bom gosto e preciosismo, cultivou um senso estético superapurado. Sua arte sofreu diversas influências de pensadores a roqueiros consagrados. Renato era maníaco por perfeição, tinha momentos de fortes questionamentos existenciais e sentia tudo com muita intensidade. Ele amava a música e dedicou muito de sua energia em função dela. Era amoroso com a família, tinha seus momentos de altos e baixos com os músicos que trabalhava e era um homem de poucos amigos. Genial e genioso.
Ele era um poeta a serviço da boa música brasileira. Suas composições, nem sempre muito fáceis, agradavam até mesmo aos ouvidos mais sofisticados. Sua música era inteligente, politizada, algumas vezes deprimente e emocional. Na verdade, ela refletia seu próprio letrista. Era intensa e entregue. Depois de acabada a leitura, percebi meus olhos cheios de lágrimas e senti um nó apertado no peito. Quando jovem, tive a oportunidade de ir a um show do Legião Urbana e acabei não indo, não tinha noção do que eles representavam. Hoje, passados 14 anos de sua morte, vejo o legado musical incrível que ele nos deixou. Renato, com certeza, ficará para sempre na memória musical brasileira como um dos grandes poetas dos últimos tempos.


Desamores, de Eduardo Baszczyn (Sete Letras, 2007) - Estava eu na biblioteca, caçando novas leituras, quando me deparei com este livro de capa curiosa e de um autor até então desconhecido. Na verdade, constatei que é o primeiro livro dele e fiquei profundamente satisfeito com o texto ágil e “uptodate” do jovem escritor. A história, basicamente, narra as aventuras e desventuras do amor, visto através de seis personagens que vivem as agruras dos que se permitem amar. Acompanhamos o desdobramento de diversas histórias vivenciadas pelos personagens, a decadência de um relacionamento, ciúmes, baixa autoestima, e até mesmo um homem sufocado por um casamento de aparências.
Resolvo compartilhar com vocês a feliz descoberta desse romance que me garantiu boas horas de risos e emoções. Espero que apreciem a indicação e aproveitem para mergulhar no mundo que Eduardo nos revela.


Fui!

6 comentários:

  1. Acho que esse doidas e santas virou peça. Vivo vendo cartazes espalhados aqui pelo Rio... Ou será filme? Perdidaço XD.

    Beijos Edilson!

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  2. Olá, olá querido!

    Passando para conferir suas dicas, beijo, beijo!

    She

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  3. Tô procurando um livro pra ler e acho q cou seguir suas dicas começando pelo "Desamores, de Eduardo Baszczyn" e "A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery" achei interessante os dois!
    Vou procurar!
    Abraçoooo!

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  4. Adoro livros. Adoro ler...A capa de A Eleancia do Ouruço me lembrou justamente as capas dos livros do Kawabata. Super poéticas.

    bjão, gato!

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  5. Queridos:

    Lobo - O livro virou peça mesmo, é a Cissa Guimarães quem a protagoniza. O livro é uma delicia, espero que consiga lê-lo. Abraços.

    Sheilinha - Que bom que você conferiu as dicas, agora leia os livros...rs. Beijooooo.

    Vanderson - Espero que aproveite bem a leitura. Para mim a leitura e a música são alimentos da alma. Abraços.

    Wans - Fico feliz que tenha curtido as dicas, eu redescobri o prazer da leitura depois de um período longo de seca...rs. Abraços.

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  6. Quantas dicas! Acabei de ler "A elegância do ouriço", gostei bastante, mas tem um tom meio didático demais que me aborreceu um pouco. Engraçado que tava pensando em postar sobre isto no blog hoje. Bj

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